fevereiro 07, 2010

2666 - Roberto Bolaño

"O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterioso escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666. Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis."

E acabei o livro... 1030 páginas de algo que tenho alguma dificuldade em descrever. Sentimentos contraditórios acompanharam-me ao longo de todo o livro, que aliás não é um mas cinco livros (ficou dividido em cinco partes). Houve alturas em que me deu muito prazer lê-lo, outras houve em que não gostei assim tanto... Houve alturas em que me irritei com a história, fiquei impaciente e custava-me voltar ao livro, outras houve em que fiquei presa e tive dificuldade em largá-lo... Sendo que o livro está dividido em 5 partes, que são bastante distintas umas das outras, talvez estes sentimentos contraditórios não sejam assim tão estranhos.

No entanto, mesmo nas partes em que me senti mais agastada com a leitura, não deixei de reconhecer que o homem escreve que se farta. Senti sempre que estava na presença de uma obra-prima, daquelas que vai deliciar os críticos e dissecadores de obras-primas por muitos e muitos anos. Nalguns momentos, porém, não deixei de me interrogar se toda a excitação em redor do livro não estaria a ser influenciada pela morte do escritor. Não quero com isto dizer que o livro seja mau ou menos bom, longe disso, mas tive alguma dificuldade em perceber que seja um best-seller, um livro para as massas. Achei o livro muito complexo, por vezes demasiado intelectual o que, à partida o deveria afastar do rótulo de best-seller, daqueles que, aparentemente agradam a gregos e troianos... Desconfio que muita gente que o gaba como sendo o livro das suas vidas tenha sequer conseguido lê-lo até ao fim, ou percebido metade do que lá vem escrito. Isto sem desprimor para ninguém, porque eu própria senti alguma dificuldade em apreender tudo o que lá está. Ele às vezes viaja um pouco na maionese... :) Houve alturas em que parava a meio, como se tivesse despertado e perguntava-me: "mas porque raio está ele a falar disto?!", tal era a frequência com que ele divergia para outros assuntos. Depois ele dá nome, e mais uns quantos pormenores, a todo o ser humano que se cruza com a história central, o que me deixou muitas vezes confusa. Tenho péssima memória para nomes e por isso ficava com a sensação que ele já as tinha referido numa outra parte do livro, o que geralmente era só impressão minha. Ás vezes foi frustrante... mas só um bocadinho. :)

Sinceramente não sei o que dizer mais sobre este livro que Roberto Bolaño escreveu durante os últimos anos da sua vida, ao qual não deu uma revisão final. Não saberemos jamais se era assim que desejava que fosse editado e se teria mais qualquer coisa a acrescentar. O livro tem coisas muito boas, como a escrita e partes da história são mesmo muito interessantes, bem como algumas reflexões que são feitas e que são perturbadoras. É um livro angustiante, onde a morte está sempre presente, onde nos apercebemos da crescente indiferença com que olhamos uns para os outros. Tornámo-nos insensíveis ao sofrimento dos outros, desde que este se mantenha longe do nosso quintal, claro.
Houve alturas em que me pareceu que o escritor se esforçou demasiado para o escrever, quis por tudo no livro, talvez tudo aquilo que desejava escrever ao longo da vida e, infelizmente não iria poder fazer. Todas as personagens que gostaria de ter criado e todas as reflexões que desejava deixar impressas para a eternidade. Ou então não teve nada a ver como isso... não sei. Este tipo de análises é mais para os tais dissecadores de obras-primas, eu limito-me a dizer que impressão me deixou o livro e, ela foi boa mas, acho que poderia ter sido impressionante se o livro fosse menos... menos livro. Fez sentido?

Sobre a história nada a acrescentar para além do que está na sinopse. Este é um daqueles livros que só lendo, tudo o que se possa dizer a mais seria redutor.

P.S. Uma nota ao tamanho do livro que torna a sua leitura fisicamente desconfortável. Deveria vir, no mínimo, em dois volumes mesmo que vendidos em conjunto. E eu não tenho problemas com livros gigantescos mas, a verdade é que este me deixou desconfortável.

2 comentários:

  1. Ah, tenho uma opinião algo semelhante =) E andava à procura de opiniões de outras pessoas, não estivesse eu a ser um pouco parva. se quiseres ler, deixei-a aqui:
    http://eucomocaracois.blogspot.com/2010/03/por-fim-opiniao.html

    ps- gostei muito do blogue, talvez porque a minha resposta à pergunta: «o que queres para o natal?» seja invariavelmente igual à tua! beijo

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  2. E ainda dizem que as mulheres são complicadas... É tão fácil fazerem-nos felizes com um livrinho! :)
    Obrigada pela visita e comentários.

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